O sucesso dos outros

“Não invejo quem quer que seja. A riqueza, o talento, o sucesso, a glória de meu próximo e de meu distante não me afligem, sou capaz de admiração, de bater palmas, aplaudir, gritar hosanas, carregar em andor, gosto de fazê-lo. O sucesso de um amigo é meu sucesso, não precisa ser amigo, basta ser patrício, baiano, brasileiro, por vezes nem isso, basta que lhe descubra talento, vocação”.

Trecho do livro Navegação de Cabotagem, 1992, p. 336

Obrigações de intelectual

“Nada mais cansativo, mais estafante, mais terrível do que as reuniões ditas sociais, coquetéis, recepções, jantares, festinhas, outras chatices semelhantes.

A obrigação de ser inteligente, os convidados esperando as frases de efeito, a profundeza, o brilho do escritor: é de lascar. Fico apavorado se não tenho jeito de escapar, como ser inteligente ao fim da tarde ou na mesa de jantar de cerimônia, com gravata e paletó? Emburreço por completo, dá-me aquela inibição, emudeço, perco o dom da fala, ainda mais parvo do que no dia-a-dia.”

Trecho do livro Navegação de Cabotagem, 1992, p.322

Política

No desejo de bem servir causas generosas e justas, aconteceu-me aceitar encargos e desempenhar  tarefas de meu desagrado – durante dois anos, por exemplo, fui deputado federal, apesar de não ter vocação parlamentar nem gosto para o cargo”.

Trecho do livro O Menino Grapiúna, 1997, p. 102

Das punições de pensar

“Pensar pela própria cabeça custa caro, preço alto. Quem se decidir fazê-lo será alvo do patrulhamento feroz das ideologias, as de direita e as de esquerda e as volúveis: há de tudo, e todas implacáveis. Ver-se-á acusado, xingado, caluniado, renegado, posto no pelourinho, crucificado. Ainda assim vale a pena, seja qual for o pagamento; erá barato: a liberdade de pensar pela própria cabeça.”

Trecho do livro Navegação de Cabotagem, 1992